À procura do sonho a 2085km de casa
Emanuel Santos, natural de Vila do Conde, tem 21 anos. No secundário optou por seguir o ramo das Artes Visuais. Aos 17 anos, apaixona-se pelo mundo da Dança. Entra para a Academia Gimnoarte, na Póvoa de Varzim. Atualmente, encontra-se na Compagnia Opus Ballet, em Florença,
Admirador de todo o tipo de Artes, é fascinado pela filosofia, pelo mundo da leitura. Gosta de praticar desporto, nomeadamente, natação e atletismo. Considera-se bastante dinâmico.

Emanuel sempre pensou seguir algo diretamente ligado ao que tinha estudado no secundário. "Num cenário mais fechado estava interessado em estudar arquitetura. Porém, após ter iniciado Dança, tive a certeza que o meu caminho passaria pelas artes do espetáculo".
O seu interesse surge quando vê na televisão a série So You Think You Can Dance. "Fascinavam-me as coreografias de contemporâneo. O modo como os bailarinos se exprimiam através do corpo. Era algo irresistível". A partir desse momento, começou por tentar reproduzir os movimentos que via, no seu quarto. "Além de o destruir, não era bem-sucedido em nenhuma execução". Um dia, uma amiga viu-o a fazer uns passos de dança e falou-lhe da Gimnoarte. Passado um mês, ganhou coragem e foi experimentar uma aula.
"Durante cerca de dois anos, dancei na Academia Gimnoarte. Depois fui bailarino na Companhia Dancenter, em Aveiro, por quatro meses. Mais tarde, durante seis meses, iniciei, no Porto, um curso avançado de interpretação e composição coreográfica". Durante o mesmo, Emanuel trabalhava e dançava na escola ADM- Academia de Dança de Matosinhos.
Em setembro de 2017, decide ir para Itália
após ser-lhe atribuída uma bolsa de estudo para começar uma formação técnica,
com a duração de três anos. "A decisão
partiu, principalmente, pela oferta da bolsa, mas também pela qualidade da
formação. Naquele momento, sabia que era necessária para mim e para me dar as
bases que não tinha".

Atualmente, vive em Florença. Está a trabalhar como bailarino numa Companhia de Dança Contemporânea, a CBO- Compagnia Opus Ballet.
O jovem foi sozinho. À chegada, teve dificuldade em encontrar um quarto "com condições mínimas e a um preço acessível", e em falar italiano. "No dia em que cheguei, no aeroporto de Florença, sozinho, pensava que tinha tudo resolvido. A casa onde iria iniciar a minha vida já estava reservada com vários meses de antecedência. Deparei-me com a realidade de que tudo tinha sido uma mentira. Estava sem casa. Era final de tarde e não falava italiano". Durante um mês viveu num quarto partilhado onde, "constantemente, entravam novas pessoas desconhecidas, no único lugar seguro que tinha". Após cinco meses consegue encontrar uma casa perto da sua escola.
Confessa que o que mais lhe custa é estar separado da família e dos amigos.
Emanuel descreve a dança, em Portugal e em Itália, como "um ensino muito similar. Ambos acreditam numa base muito técnica. Talvez em Itália, um estudante tem uma maior liberdade na escolha e no método para o seu percurso. Enquanto que em Portugal, apesar de ter vastas opções, existe um nível de rigor superior".
O jovem sente que, em Portugal, o apoio aos "excelentes profissionais" é muito reduzido. Acredita que os mesmos ficam impedidos de poder oferecer o seu trabalho, que por consequência, faz com que as oportunidades sejam escassas e repetitivas, ou seja, "todos os anos existem as mesmas possibilidades de escolha, sendo rara a diversidade e a novidade".
Para Emanuel, o que pode fazer sobressair a dança em Portugal é o aumento dos apoios. Criarem mais oportunidades e surgirem mais novidades.
O Emanuel que vivia cá, não é o mesmo que vive em solo italiano. Tornou-se numa pessoa mais forte, mais independente, consciente das dificuldades, mais atento.
"Percebi
o verdadeiro valor de família e de amigos. Entendi, verdadeiramente, o que é a
saudade, o que é a perda de algo/tempo irrecuperável e irreversível. Conheci-me
como nunca". Um Emanuel mais honesto com ele próprio.
Começou do zero. Sente que todas as diferenças fizeram dele a pessoa que é
hoje.

Aconselha os jovens que tenham a ambição em ir estudar fora, a fazê-lo de forma inteligente. A experimentarem e a darem uma oportunidade aos sonhos. "A serem abertos à mudança".
Vê a dança como "uma forma de expressão. Dançar é dar, é comunicar, é interpretar, sentir e fazer sentir". A palavra que melhor define esta arte é honestidade. "No mundo da arte, é dos conceitos mais difíceis. O ser honesto consigo próprio e com os outros".
Para o jovem, ser honesto na arte "é aquele que dentro da mentira, ou dentro de uma personagem ou sentimento que não se adequa à sua pessoa, consegue com maturidade, encontrar a sua verdade naquilo que faz".