Covid ao Cesto

O "Covid ao cesto", "jogo desportivo" que surgiu no final do ano passado, é disputado mundialmente por todos os atletas do basquetebol. Ana Ramos, atleta de basquetebol norte-americano, e Francisco Amiel, atleta da Liga Portuguesa, foram afetados por este "novo desporto". O "Covid ao cesto", não é "um desporto" positivo e veio atrasar o desenvolvimento e a evolução destes jovens enquanto atletas.
Viviana Fangueiro (texto), 12 de junho de 2020, 09:30
Ana Ramos, natural da Póvoa de Varzim, tem 21 anos e é basquetebolista. Começou com nove anos a jogar no Clube Desportivo da Póvoa, mas a sua paixão pelo basquetebol despertou aos treze quando o levou mais a sério.
O seu objetivo enquanto atleta, sempre foi representar as cores de Portugal, o que veio a realizar no ano de 2015. "A sensação é incrível. O Europeu, cá em Portugal, contou com um público de 5.000 pessoas. Foi incrível!", recorda a jovem.

Após o Europeu, onde foi considerada a
jogadora mais valiosa, MVP, Ana recebeu propostas de várias faculdades. Acaba
por assinar contrato com a universidade de San Diego, iniciando assim, na época
de 2016/2017, o seu percurso no basquetebol norte-americano universitário, pela
equipa Toreros.
Assim como Ana, também Francisco Amiel, natural de Lisboa, teve a oportunidade de pisar o solo americano enquanto atleta universitário.
Francisco tem 24 anos e foi através da
influência paterna que, aos três, iniciou o seu percurso no basquetebol, no
clube que seu pai treinava.
Estreou-se com 17 anos na Liga Portuguesa de Basquetebol, no Algés. Após várias exibições nos Campeonatos Europeus e na Liga Profissional, por interesse mútuo, surge a oportunidade de ingressar na Universidade de Colgate, em Nova Iorque, onde jogou durante quatro anos nos Colgate Raiders.

Historicamente, o basquetebol está ligado aos Estados Unidos da América, onde foi criado. Lá, tem grande destaque a nível mediático e movimenta um gigante público. Contrariamente aos Estados Unidos, em Portugal, tem vindo a perder importância apesar da tentativa de reconquista por parte da Federação Portuguesa de Basquetebol ao transmitir no canal online e na televisão pública os jogos portugueses.
Segundo os últimos dados da PORDATA, no ano de 2018, existem na totalidade 667.715 atletas desportivos federados. Nesse total, 39.247 são atletas basquetebolistas. Apesar de, em 2009, o basquetebol ter sido o segundo desporto mais praticado em Portugal, atualmente, passou a estar na quinta posição. Na América, o número de atletas é bastante superior ao de Portugal.
O basquetebol português é diferente do americano a nível das normas de jogo. Segundo Francisco, "os tempos são diferentes e as medidas dentro do campo também". Já Ana salienta o lado físico. Enquanto que nos Estados Unidos o jogo "é muito mais físico, mais rápido" e individual, como um espetáculo, o Europeu "é muito mais pensado, mais calmo e mais inteligente". Possui uma vertente mais tática e as jogadas são mais trabalhadas. Em campo, a cabeça sobrepõe-se à força.
No início deste ano, a Covid 19 deixou o mundo em alerta. Levou a que por todo o mundo, fossem implementadas medidas excecionais. No desporto não foi exceção, afetando-o de forma significativa. Foram vários os jogos que foram cancelados.
O ensino universitário americano, contrariamente ao português, é mais flexível. "Tu podes ir para a faculdade, mas não tens que escolher logo no primeiro ano o teu curso. Escolhes as cadeiras, e depois, no segundo ano, é que entras para um curso para veres mais ou menos aquilo que gostas", diz a jovem.

A estudar em San Diego, no seu último ano, segundo Ana, a pandemia na América surgiu "de repente". Quando os jogadores da NBA, liga profissional de basquetebol dos Estados Unidos, começaram a ser afetados pela Covid-19, "nós tivemos logo que evacuar a faculdade e ir para casa", conta. Após esta decisão por parte da Universidade, Ana regressa para Portugal onde passa a ter aulas online. Mais trabalhos, aulas mais curtas, mas benéficas para o seu nível de concentração.
Esta abordagem tomada pela universidade norte-americana é um pouco diferente da portuguesa, uma vez que o tempo das aulas online é semelhante ao das presenciais e, de um modo geral, os alunos dizem não conseguirem concentrar-se durante as mesmas.
Embora o tenha concluído em solo português, Ana acabou o curso de Administração de Empresas em maio.
Francisco classifica a universidade de Nova Iorque como "muito prestigiada academicamente. Tinha contacto com professores incríveis, o que era muito importante para mim", afirma. Em termos de basquetebol, confessa que, historicamente, não tinha singrado nas últimas décadas, mas no seu último ano nos Toreros, foi capaz de bater praticamente todos os records que havia para bater, tanto a nível individual como coletivo. "Conseguimos dar um pouco a volta à maneira como o programa era visto", diz.
Francisco já tinha regressado a Portugal no ano passado. "A meio da minha última época nos Estados Unidos, surge o convite do Sporting", conta. Quando chegou a Portugal, o atleta acabou por assinar pelo clube. A época de 2019/2020 ficou marcada pelo seu regresso à Liga Portuguesa.
Durante o período da quarentena, Francisco e Ana têm se mantido o mais ativos possíveis. Enquanto atletas, é fundamental que encontrem maneiras de se manterem focados e motivados.
Ana descreve-se como uma atleta trabalhadora e esforçada. "Enquanto atleta, à vista de muitos, se calhar não sou aquela atleta com um físico fora do normal, mas trabalho muito. Gosto de trabalhar sempre o máximo para ser melhor, para evoluir todos os dias", confessa. A jovem encontra motivação na frase "Trabalhar mais do que o teu potencial", de Kobe Bryant.
Francisco Amiel continuará a jogar pelo Sporting. Pensa que o regresso da Liga será interessante. "Vimos de uma situação nunca antes vivida e, com praticamente seis meses sem competição, vai ser um processo gradual, mas acredito que na altura das decisões as equipas estarão na sua melhor forma", diz.

Francisco pretende acabar o que foi começado nesta época e ser campeão pelo Sporting, mas "num futuro mais longínquo, tenho bastantes coisas que gostaria de realizar, mas neste momento, é nesse objetivo que me foco".
Já Ana, por agora, não regressará aos Estados Unidos. "Quero jogar basquetebol profissional", afirma. Depois de quatro anos a jogar nos campeonatos universitários norte-americanos, a base internacional portuguesa, na próxima época, representará o Clube União Sportiva, nos Açores.
