Jovens abdicam da educação e optam pela vida do mar

22-01-2020

António, Filipe e José Pedro são três jovens caxineiros. Nas Caxinas, onde o mar é por muitos adorado, é de geração em geração, que lhes foi e lhes continua a ser transmitido o amor que nutrem pelo mundo da pesca. Por vontade própria, os jovens são pescadores.


No tempo em que nos encontrámos, apesar de haverem muitas oportunidades para os jovens do nosso país, muitos são os que optam por seguir a vida do mar, serem pescadores. Não por serem obrigados e por não terem mais para fazer, mas porque o querem.

É o caso de António Cascão. “Tozé”, como é conhecido pelos amigos e família, é natural das Caxinas e tem 21 anos. É pescador desde os 18 anos de idade.

“Escolhi esta profissão porque sempre gostei da vida do mar. Não o fiz por obrigação. Segui os passos do meu avô e do meu pai, também eles pescadores. Vejo-os como um exemplo, e por isso, optei por ter a mesma profissão que eles”.

Trabalha na embarcação da família. A bordo, é o braço direito do seu pai. “Trabalho no convés juntamente com o resto da tripulação, mas principalmente, ajudo o meu pai em tudo aquilo que ele precisa”.

Tozé, em momento algum, mostra-se arrependido pela decisão que tomou. Optou por deixar os estudos de lado e acredita que fez uma boa escolha. 

“A vida do mar é uma vida livre e não há nada melhor”. Considera o mar como a sua segunda casa, local onde se sente feliz.

Semelhante à história de Tozé, encontrámos o caso de Filipe Marques e de José Pedro Nunes.

Filipe Marques é amigo de Tozé há mais de dez anos. Juntos andam à pesca da ameijoa. O jovem, com apenas 17 anos de idade, iniciou a sua vida na pesca a bordo da embarcação da família do amigo. Também ele é pescador não só pela vontade, mas também por ter familiares ligados ao mar. “Optei por esta profissão pelo facto de ter crescido nesse meio com o meu pai e familiares”. A bordo é camarada e cozinheiro.

Filipe tem a certeza de que tomou a decisão certa. “Já ando no mar há algum tempo. Voltaria a fazer a mesma escolha. Não há arrependimentos quando se trata de algo que adorámos. Gosto tanto do que faço que nem sequer o considero como um trabalho”.

Na zona das Caxinas, são cada vez mais os jovens que seguem esta vida. José Pedro Nunes tem 19 anos. Há cerca de um ano, decidiu tirar a cédula.

"Nunca gostei muito da escola e como sempre tive ligado ao mar graças aos meus familiares e a amigos, por vontade própria, tornei-me marinheiro".

José Pedro assume ter feito uma boa escolha, pois sente-se bem naquilo que faz.

O local onde os jovens moram, Caxinas, é uma terra que faz parte de Vila do Conde. É vizinha da Póvoa de Varzim. Ambas, são bastante conhecidas pela pesca e pela ligação ao mar.


Os três jovens a bordo da embarcação
Os três jovens a bordo da embarcação




É uma terra litoral, conhecida pelo seu mar e pelo seu longo areal. A sua comunidade caracteriza-se pela sua amabilidade e pela vida piscatória tão presente na mesma.

As mulheres trabalham em terra, enquanto que os homens partem para as águas geladas em busca de um futuro melhor.

Desde cedo, que esta profissão é escolhida por muitos. No ano de 1969, segundo a base de dados PORDATA, estavam registados 35 228 pescadores. Antigamente, muitos jovens, quando atingiam a adolescência iam para a pesca. Muitas vezes, faziam-no pelo gosto e por verem o mar como uma forma de ganhar bom dinheiro. É o caso de António Fangueiro.

António Fangueiro, mais conhecido por “Tó”, tem 48 anos. Natural de Vila do Conde, após concluir o sexto ano escolar, aos 17 anos, António, por vontade própria decide aventura-se no mundo da pesca.

“Os meus amigos foram todos para o mar e decidi ir também. Fi-lo para ganhar dinheiro. Ganhava mais dinheiro no mar do que do que num trabalho em terra”.

A primeira experiência de “Tó” foi no ano de 1988. Segundo a PORDATA, nesse ano, estavam registados 39 693 pescadores. Houve um significativo aumento desde o ano de 1969. A primeira pequena embarcação, onde trabalhou durante dois anos, chamava-se “Afonso Moça”. O trajeto da mesma era feito no mar de Vila do Conde e Póvoa de Varzim.

Embarcação de António Fangueiro, em França
Embarcação de António Fangueiro, em França




Nos últimos 31 anos, António Fangueiro trabalhou em Portugal, em Espanha e, atualmente, trabalha em França. Já trabalha nos mares franceses há cerca de oito anos. Anda na pesca do arrasto. António descreve o mar de França como “inconstante e muito agitado”.

Como diferenças entre a pesca antiga e a dos dias de hoje, António salienta a questão das quotas. Estas vieram trazer consequências para o mundo da pesca.

A maioria dos pescados estão sujeitos às chamadas quotas de pesca, isto é, aos limites de captura do peixe, quer expressos em peso ou quantidades.


Redes de Pesca
Redes de Pesca




Ao longo dos anos, o aumento da diminuição das quotas leva, consecutivamente, à descida do número de pescadores, pois estes, ficam cansados da falta de marés, e optam por procurar outras formas de ganhar dinheiro. Muitos desistem da vida inconstante do mar afim de procurar outros empregos que sustentem os gastos familiares.

Hoje, os pescadores contestam as quotas estipuladas pela União Europeia para espécies como a sardinha, o carapau, o biqueirão, entre outros. De acordo com a PORDATA, relativamente, ao total de peixe capturado por espécies, comprova-se o aumento, entre os anos de 1969 e 2018, de peixes como o carapau e a cavala, e a diminuição da pesca da sardinha devido às quotas da mesma serem inferiores às restantes. Um dos maiores problemas que vem sendo mencionado pelos pescadores é o da redução das quotas portuguesas na pesca da mesma. Os pescadores julgam como insuficientes os valores das quotas, exigindo o seu aumento para o ano de 2020.

As toneladas de peixe capturado tem vindo a diminuir. Segundo a base de dados PORDATA, em 1969, foram capturadas 333.695 toneladas de peixe. No ano de 2018, apenas foram capturadas 128.438 toneladas.


António descreve a pesca como algo pesado a nível físico. “Antigamente, a pesca era muito mais cansativa fisicamente. Não havia a maquinaria que há nos dias de hoje. Apesar de também ser difícil devido ao tempo, sinto que antes custava mais”.

As maiores dificuldades que “Tó” encontra é o frio e as fortes ondulações que muitas vezes se fazem sentir.

António Fangueiro, em nenhum momento da sua vida, teve vontade de voltar a estudar.




Não me arrependo da decisão que tomei. Encontro-me a fazer aquilo que sei e que gosto. Sinto-me um homem muito realizado a nível profissional”.


Embora nascidos em épocas diferentes, a história deste homem e destes três jovens são semelhantes. Ambos partem para o perigo da pesca, mas nem este apuro os faz abandonar a sua segunda casa, o mar. O sentimento torna-se mais forte que o perigo.

 

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