“The body says what words cannot”

Andreia Catarina Almeida Antunes, natural de Abrantes, mora em Paço de Arcos. Foi para Lisboa quando entrou para a faculdade e vive lá desde 2003. Licenciou-se pelo FMH, Faculdade Motricidade Humana em Dança e já participou em vários programas televisivos enquanto bailarina e coreógrafa. O #infomedia dá a conhecer um pouco do seu percurso e a importância que a dança tem na sua vida.

"(...) a dança acaba por ser um caminho ou algo que me ajuda a exteriorizar tudo aquilo que eu não consigo dizer".
Andreia, a nível de trabalho, sempre foi aquela rapariga que quando lhe diziam que era para dançar de salto alto, ficava contente. "Isso acontecia talvez pelo meu background ser de salão. Eu, desde novinha, estava habituada a dançar de salto alto. Nunca fui aquela menina de dançar com aquele salto mais baixinho. Estava familiarizada", diz.
No High Heels, o que lhe chama a atenção é a diferença de estar com sapato raso e observar a transformação que o corpo, e a forma com que a atitude e a presença de uma pessoa se altera quando põe o salto alto. Gosta de ver as linhas do corpo. A subtileza com que o movimento se transforma. "E saber que consigo fazer tudo de salto alto, isso aí, então, deixa-me ainda mais apaixonada!", confessa.

Em 2007, a jovem foi chamada para ir com a comitiva portuguesa à Eurovisão, na Finlândia. O evento realizou-se na Hartwall Arena, em Helsínquia. "Eu e o outro bailarino, Nélson Araújo, éramos os únicos bailarinos na comitiva. Foi a minha primeira experiência profissional a dançar fora".
A Eurovisão foi para si um momento marcante devido à grandiosidade da mesma. "Todo o processo de ensaio, todo o backstage, era tudo uma novidade para mim. Lá, experimentei coisas que fiquei Uau, isto existe! Que giro", conta.
No momento em que sobe ao palco, após a chamada, Andreia sentiu-se pequena. "O barulho ensurdecedor, as palmas. Eu não consigo explicar por palavras", afirma. Ficou-lhe na memória como uma situação única.
"(...) cá, em Portugal, muitas das vezes, dizem-nos que não é possível e lá, eu percebi que é possível".
Andreia já participou, enquanto coreógrafa e bailarina, em vários programas nacionais televisivos, como o Achas Que Sabes Dançar, o The Voice, o Dança com as Estrelas, entre outros. "Adoro o trabalho em televisão. Adoro ver todo o backstage, as luzes, as câmaras, como são feitos os ângulos. Tem sempre aquela magia da caixinha. Aprende-se muito sobre a ética no trabalho", diz.
O fazê-lo enquanto bailarina, é para si diferente de o fazer como coreógrafa. Uma bailarina tem sempre alguém que lhe diz o que fazer. "Só tens de te cingir ao que te pedem para fazer e fazeres o teu melhor. Estar no timing certo".

A nível coreográfico, a jovem dá o exemplo do Dança com as Estrelas que considera como um "turbilhão de emoções". Está lá como bailarina, mas parte do esforço e de tudo o que mostra vem daquilo que cria. "É aquele peso de não só dançar, mas mostrar a tua ideia e tentar fazer com que a pessoa que está do teu lado, também dance e brilhe, se sinta à vontade", afirma.
Questionada sobre se dá mais importância à criação de um espetáculo ou se dá primazia à simplicidade, Andreia refere que depende muito do que quer mostrar, do que quer fazer. Tem uma máxima que costuma transmitir aos seus alunos "Menos é mais". A jovem defende muito isso, se calhar, mais ao nível do movimento.
"Eu posso dizer que tenho a experiência tanto de um lado como do outro. Estar num palco com milhões de pessoas a assistir. As luzes, os confettis, fogo de artifício, entradas e saídas, tudo em palco, como também tenho a experiência de simplesmente estar eu. Os dois lados completam-se e são ambos importantes".
Em 2011, após a sua participação no programa Achas Que Sabes Dançar, na SIC, surgiu a oportunidade de ingressar num espetáculo, em Copenhaga. "Um dos coreógrafos do programa, o René Vinther, gostou muito da minha maneira de dançar, da minha ética de trabalho e convidou-me a mim e à Mariana Paraízo para fazer parte desse espetáculo que ele ia coreografar", conta.

Apesar de sentir medo, aceitou. Andreia não sabia o que era, nem o que iria encontrar, mas acabou por ser uma surpresa agradável para si. Confessa que ficou apaixonada pela cidade, cidade onde ficou desde 2011 a 2016. "Foram seis anos a trabalhar lá. Adorei! Amei!", confessa.
Sintetizando um pouco o seu percurso em Copenhaga, no primeiro ano, eram apenas três portugueses. "Eu, o Nélson Araújo e a Mariana Paraízo tínhamos, ali, uma bengala". No segundo ano, somente Mariana se encontrava consigo, o resto dos profissionais eram suecos e dinamarqueses. No terceiro ano, Andreia e Diana Matos eram as únicas portuguesas. Entre o ano 2014 e 2016, a jovem era a única portuguesa nesse espetáculo.
"Senti-me em casa. Trabalhava de segunda a sábado e folgava ao domingo. Tinha shows duplos, sessões duplas à quarta, à sexta e ao sábado. Adorei todo o processo. Eu ia sempre em abril e voltava em setembro", conta.
A jovem destaca esse momento da sua vida. Evidencia o seu trabalho com René Vinther. "Às vezes, nós bailarinos, não somos vistos como artistas, mas sim como aqueles que vão abanar o esqueleto. Então, para mim, nesse ano, foi uma chapada. Fez-me perceber que a minha vida não era assim. Eu sou bailarina e sou importante. Estava ali para trabalhar e mostrar o meu melhor", diz.
Nesse processo teve a oportunidade de trabalhar com excelentes profissionais. Trabalhou com Diana Matos, com Nelli Bethel, que ultimamente, é uma das bailarinas da Jennifer Lopez, com Stephanie Nguyen, que fez duas tours com a Madonna, e com Tobias Ellehammer.
"Não. Eu quero aprender a dançar".
Foi toda uma aprendizagem para Andreia. "Percebi que cá, em Portugal, muitas das vezes, dizem-nos que não é possível e lá, eu percebi que é possível. Recomendo a quem quiser ir para fora que o faça porque é uma experiência brutal", aconselha.

Andreia sente-se uma sortuda porque já teve vários momentos ao longo do seu percurso que a marcaram. Em maio de 2018, foi escolhida para ser uma das bailarinas da Eurovisão, em Lisboa. "Foi marcante, se calhar nem tanto pela parte do espetáculo, mas todo o processo de trabalho", diz.
Tinham de aprender as músicas, as coreografias, os planos das câmaras, tudo o que os artistas "originais", em palco, aprendiam. A jovem confessa que eram as cobaias. "Fazíamos todo o percurso de microfones, ensaio de som. Foi um trabalho marcante por isso. Aprendi imenso de ética de trabalho. Adorei!".
No dia 24 de junho do mesmo ano, Andreia abriu o Palco Mundo, no Rock in Rio, na atuação do cantor Agir. Não consegue explicar por palavras o momento. "Adoro o trabalho do Agir. Nesse dia, iam atuar também os cantores Anitta, Demi Lovato e Bruno Mars, então aquilo estava cheio de gente. Um mar de pessoas que nunca mais acabava", lembra.
Confessa ainda se arrepiar quando revive o momento. Nesse concerto, Andreia estava como coreógrafa juntamente com Daniel Soares, quem descreve como excelente profissional. Agradece-lhe pelo resultado, também, fruto do seu trabalho.

Atualmente, com a situação da Covid-19, Andreia é da opinião que se a Arte não se reinventar, terá consequências. "Eu acho que acaba por ser um abre olhos para nós, artistas, percebermos que se calhar a Arte tem de seguir várias vertentes ou vários rumos, e que é possível reinventar isso", diz.
No futuro pensa que vão haver coisas novas e novas formas de chegar às pessoas.
Enquanto bailarina, descreve-se como multifacetada. "Acho que se tiver um coreógrafo à minha frente, seja que estilo for, eu facilmente consigo adaptar-me ao estilo que me apresentam", afirma. Apesar de ter começado nas danças de salão, Andreia consegue apanhar vários estilos, consegue dar aquele "flavour".

Para a jovem, ser um bom bailarino é sinónimo de ter uma boa técnica, mas principalmente, para si, é necessário saber trabalhar com outras pessoas, ter vontade de trabalhar e ter uma boa vibe. "Muito mais do que a técnica, que tenha uma boa energia e uma força em palco", afirma.
Face à questão o que teria em mente para o futuro e quais seriam os seus objetivos, Andreia confessou ter "um bocadinho de medo". Não o sabe ao certo, porque é uma pessoa que faz as coisas "pé a pé".
"Eu não me vejo sem a dança, não consigo! É difícil!", confessa. Adorava abrir um franchising, algo relacionado com comida. Talvez, passe por ser um dos seus objetivos no futuro. Andreia diz ser ambiciosa, mas que não projeta muito para o futuro. Para si, a dança é "The body says what words cannot", frase de Martha Graham, que significa, o corpo diz o que as palavras não podem dizer.
Para si, a dança é "The body says what words cannot", frase de Martha Graham, que significa, o corpo diz o que as palavras não podem dizer.

"Eu sou bailarina e sou importante".
"Para mim, o significado de dança é esse. Encaixa perfeitamente na minha personalidade e naquilo que eu sou. Pode não parecer, mas eu sou uma pessoa tímida, de poucas palavras e a dança acaba por ser um caminho ou algo que me ajuda a exteriorizar tudo aquilo que eu não consigo dizer. Deitar cá para fora!".
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