Versatilidade descreve Joana

Joana de Lima é bailarina, coreógrafa e professora. Tem 25 anos, é natural da cidade do Porto, mas vive em Lisboa. Apesar do seu primeiro contacto ter sido com o Ballet Clássico, já passou pelo Street Jazz, pelo Hip-Hop, pelo High Heels, pelas danças indianas e muito mais. A versatilidade é a palavra chave para caracterizar a jovem. Para além da dança, Joana gosta imenso de cozinhar. Todos os trabalhos que já teve oportunidade de abraçar faz com que seja uma profissional rica e com uma grande bagagem.

A dança está presente na sua vida desde muito cedo. A sua mãe era professora de ballet e tinha uma escola de dança. "Desde que comecei a gatinhar passava muito tempo com a minha mãe. Ia com ela para o trabalho, portanto, desde aí comecei a querer dançar", conta.
Aos três anos, iniciou o Ballet Clássico. Como a escola era da sua mãe, teve acesso a muitos estilos de dança. "Desde pequena, tive logo uma formação muito versátil. A minha mãe sempre me incentivou muito nessas andanças e inscreveu-me noutras escolas", diz.
Com apenas cinco anos, já fazia vários eventos de grande dimensão. Até chegou a ir à televisão com a escola Dance For Kids. "Tenho vídeos a dançar no Batatoon e na Sic 10 Horas. Também dancei na inauguração do Estádio do Dragão". Desde cedo, teve logo este tipo de experiências performativas.
"Foi muito importante para o meu crescimento, não só como bailarina, mas como pessoa"
A sua formação começou pelo Ballet Clássico. "Fiz quase o programa todo da Royal Dance Academy". Nesta escola, também teve oportunidade de fazer parte do MTV Dance. "Acho que acabou por ser um Street Jazz, uma coisa mais comercial com músicas mais pop, o que foi sempre uma paixão", conta. Após essa altura, foi experimentando de tudo um pouco. Segundo Joana, focou-se no Hip-Hop. Na altura, começou a fazer competições. "Havia as PromoFitness, as competições da Federação de Ginástica e tínhamos, também, os espetáculos de final de ano da escola", conta.
"Muito back in the days", o seu primeiro contacto com o Hip-Hop foi com Paco. "A partir daí, a minha formação foi, sobretudo, com a Maria João Dias que fazia parte dos Ultimate Crew e com os restantes membros, o André Ferreira, o Paulo Aguiar, o Vitor Kpez", diz. Estes foram os nomes com quem aprendeu as diversas vertentes do Hip-Hop.

Paralelamente, a jovem sempre fez muitas formações pontuais, workshops. Fez cursos no Conservatório Nacional onde contactou com a dança indiana pela qual se apaixonou, acabando por fazer um pouco mais de formação com Diana Rego. Joana sempre se disponibilizou a viajar. Participou no Urban Dance Camp, na Alemanha. Em Londres, fez aulas no Studio 68. Quando vai para Paris, começa a focar-se noutros estilos de dança, sobretudo, o High Heels, o Street Jazz, estilos mais femininos, mais comerciais.
A sua ida para Paris foi uma parte importante na sua formação. Tudo começou quando frequentava o 12º ano, na Escola Soares dos Reis. "Na altura, o ministro da Educação alterou as regras do acesso à faculdade, os exames, etc. Aquilo deu muita revolta, não só nos alunos. Foi essa situação que despoletou tudo. Para além da prova de aptidão artística passou a ser necessária positiva no exame de português. Oitenta por cento da escola chumbou, inclusive eu. Senti-me injustiçada! Não me apeteceu fazer a segunda fase e desisti da ideia de ir para a faculdade. Fui embora", conta.
"Essa acaba por ser eu"
Inicialmente, a jovem esteve em Paris durante um mês, acabando, mais tarde, por ficar durante um ano. Aproveitou para fazer aulas. Aperceber-se como era o mundo da dança lá e fazer formação. "Era uma jovem de 18 anos. Foi uma altura que me fez crescer muito. Estava num país sozinha. Foi muito importante para o meu crescimento, não só como bailarina, mas como pessoa", confessa.
Joana experimentou aulas de Burlesque e de Cabaret. "Na altura, tinha um fascínio por Crazy Horse e adorava ser uma bailarina dele, mas não tinha corpo para isso", ri. A jovem trabalhou numa companhia circense. "Tive uma aula com uma bailarina do Crazy Horse. Mais tarde, ela contactou-me para me enviar informação para fazer o casting para a companhia circense. Fui e fiquei", conta.

Uma das coisas que mais gostou em França foi de trabalhar num espaço de jantar e festas para a população imigrante. "Era a bailarina que entrava depois do jantar. Foi bom porque era ótimo sentir-me perto de portugueses e de pessoas que ficaram amigas para sempre. Uma segunda família em França", lembra.
Em 2015, após voltar de Paris, inscreveu-se no programa Achas Que Sabes Dançar (AQSD), da SIC. Ao início, a jovem estava um pouco reticente, pois considerava-se muito inexperiente. Era um meio que desconhecia. "Achava que para ir num programa destes precisava de estar um pouco mais madura a nível técnico, mas ao mesmo tempo, sabia que não acontecia todos os dias, e pronto, mergulhei a pés juntos", afirma.
Descreve esta experiência como inacreditável. Uma formação muito intensiva. Todo um mundo novo de televisão que descobriu. "Senti que cresci imenso. Estava rodeada de coreógrafos superexperientes. Todos aqueles com quem trabalhei, nacionais e internacionais, eram incríveis. Partilhar aquela experiência com colegas que faziam parte de uma geração acima parecia um sonho", confessa.

Da experiência retira o crescimento e as amizades. Ao ter oportunidade de dançar todas as semanas estilos diferentes, Joana sentia-se como "uma criança numa loja de guloseimas", brinca. O AQSD abriu-lhe as portas. Joana afirma que foi a partir daí que a sua aventura como bailarina profissional, em Lisboa, começou.
"Um Girl Power que nem sempre é fácil de encontrar"
O munda da dança já permitiu à jovem bailarina contactar com excelentes profissionais. Inspira-se em todos os artistas que estão envolvidos naquilo que faz. Não somente nos profissionais da dança, mas também do showbizz. Inspira-se nos maquilhadores, nos hair stylists, nos estilistas, nos atores, nos cantores, nos operadores de câmara. "Tudo contribui para aquilo que nós fazemos. Adoro um bocadinho todos os profissionais portugueses por igual. Internacionalmente, lembro-me de nomes como Megan Lawson, Arielle Macedo, Camillo Lauricella e David Hernandez".

Joana identifica-se com David Hernandez na sua forma de estar e de trabalho. "É uma pessoa incrível. Guardo com muito carinho todos os trabalhos e tempo que estive a aprender com ele. Aprendi mesmo muito. Tudo o que aprendi com ele faz parte do meu dia-a-dia de bailarina", afirma.
Na sua vida profissional, Joana inspira-se em várias pessoas. "Há tantos artistas que têm algo para me dar. Lembro-me de nomes como a Parris Goebel, o Yanis Marshall, tantos outros", diz.
Joana, em Paris, teve aulas de Street Jazz e de High Heels com Yanis Marshall. "Foi aí que me apaixonei pelos estilos mais sensuais e despertei um bocadinho mais esse lado", confessa.
Como referência, tem todos os mais velhos com quem trabalha. A jovem sente que entrou um bocado cedo no mercado de trabalho. Pessoas que via como seus professores e na televisão tornaram-se seus amigos e colegas. "Eu sou o tipo de pessoa que, muitas vezes, vai aos mais velhos pedir conselhos e é bom. É bom as gerações mais novas tentarem aprender ao máximo com eles", afirma.
Após sair do AQSD, Joana fez um casting para ser bailarina na tourné do cantor David Carreira. "Fui ao casting e fiquei. Era muito inexperiente. Tirando um trabalho pontual ou outro, como o do Marco de Camillis, os Globos de Ouro, entre outros, era a minha primeira tourné", diz.

O cantor passou a querer contar consigo de ano para ano. A jovem diz ser engraçado ter uma rotina, um show que é repetido para públicos diferentes inúmeras vezes. "Temos que pensar que estão a ver-nos pela primeira vez. Tenho que dar sempre o meu melhor. Esse treino de repetição faz com que um bailarino possa evoluir muito rápido", afirma.
Aos poucos, Joana começa a ter mais liberdade. É depositada em si uma maior confiança, mais responsabilidades. "Tenho um papel criativo no projeto. Tenho sempre um papel na escolha dos figurinos e passei a ser a responsável dos bailarinos. Comecei a coreografar em colaboração com o Rico, e sozinha quando é uma coisa mais feminina", conta. A jovem teve a oportunidade de coreografar o videoclip Minha Cama. Cada vez mais, foram surgindo novos desafios e mais envolvimento na equipa, que considera como família.

"Amo a minha arte e amo a minha profissão"
Em maio de 2018, Joana fez parte da equipa de bailarinos da Eurovisão. Todos faziam o vídeo que era enviado a todos os países a concurso. Joana Lima e Carlota Carreira foram convidadas por San Marino para fazerem parte do seu número de apresentação. "Eles devem nos ter visto e chegaram à conclusão de que precisavam de algo mais. Então, um bocadinho em cima do joelho fizeram o convite e claro que aceitámos".
Confessa ter sido uma coreografia fácil, tranquila, mas tinha noção dos milhões de pessoas que iriam assistir. "Foi incrível estar ao lado da Carlota nessa experiência porque é sempre uma alegria trabalhar com ela. Dá-mos sempre ótimas risadas e gosto muito de dançar com ela. Foi uma cereja no topo do bolo que juntando à Eurovisão, acabou por ser incrível!", conta.

Para a jovem foi um momento inesquecível e se calhar a maior produção na qual esteve inserida.
No mesmo ano, a 24 de junho de 2018, Joana dançou com a cantora Anitta no Palco Mundo, no Rock in Rio. "Lembro-me de receber a chamada e metiam aquilo como quase nada. A fazerem-me a proposta de dançar com a Anitta como se fosse mais um trabalho. No final da chamada, eu só dizia "Tipo, calma, calma. É para quem? Para a Anitta? Calma! Como assim?", recorda.
A chegada da equipa brasileira foi para si uma "lufada de ar fresco. A sambar o dia todo. A rebolar a raba o dia todo e a comer açaí pela manhã antes de ir para o soundchek", conta. Apesar de todos os contratempos que tiveram, o espetáculo foi muito vibrante. Quando as cortinas subiram, Joana confessa que tremeu muito das pernas por causa da visão de recinto cheio. "Foi um dia para ficar na minha memória. Felizmente, guardo as amizades!", diz.
Joana brinca com o facto desta experiência ter-lhe deixado um tique. "Estou sempre a abanar o rabo. Fiquei viciada! Comecei a consumir muito mais funk e a dançar no meu quarto sozinha", confessa.
Ao Rock in Rio, que foi de loucos, a jovem bailarina junta o videoclip da Madonna. "São daquelas coisas que acontecem um bocadinho Once in a lifetime. São coisas que a probabilidade de acontecerem aqui é ínfima. Foi uma ótima surpresa", assume.
"É food for the soul!"
Na tourné de 2019 de David Carreira, Joana teve oportunidade de trabalhar com Andreia, Francisca Marques e com Anisa. Apesar de estar como coreógrafa e estar encarregue da direção artística, manteve-se como bailarina. "Fiquei muito contente por trabalhar com elas. Foi um exemplo de mulheres a apoiarem-se umas às outras e a serem amigas. Sentiu-se uma união de equipa dentro e fora do palco. Um Girl Power que nem sempre é fácil de encontrar. Uma junção perfeita de personalidades e energias. Com elas, senti a tal questão da telepatia. Elas são incríveis", afirma.

A última experiência que teve com esta família foi a 30 de novembro de 2019, no Altice Arena, o concerto 360º. Teve a oportunidade de coreografar e de fazer o trabalho de direção artística. Fê-lo com David Carreira, pois segundo a jovem, o cantor envolve-se muito em todas as questões. "Não é aquele artista que deixa na mão dos outros. Ele é muito preocupado, muito profissional e preocupa-se em ter o cunho dele em tudo o que faz", diz. Joana ficou muito contente por ter consigo Rico e por dividir com ele o trabalho. "Usando os fortes um do outro, para juntos construir o melhor espetáculo possível. Estou bastante satisfeita e feliz com o que foi apresentado no final", afirma.

Atualmente, a jovem bailarina dá aulas de Girlie na Jazzy Dance Studios. "Quando coreografo e dou uma aula, eu acabo por inspirar-me na música e uso a bagagem que tenho de uma forma geral, ou seja, a minha aula é coreográfica. Não é uma aula técnica de um estilo específico", explica.
Para Joana, a sua aula define um conceito. Define sensualidade. Movimentos que acredita ser a definição do que é ser feminina, ser sensual. "Acaba por ser uma coreografia onde se privilegia a sensualidade, a postura, a qualidade de movimento, todo um universo de coisas que se podem explorar num mundo onde não tenham as tais caixas e etiquetas obrigatórias", diz.
A jovem tem mais liberdade para criar e ensinar diversas coisas, em diversas sonoridades. "Essa acaba por ser eu", confessa.Neste período de quarentena, Joana tem aproveitado para fazer workshops online. "Tenho feito aulas online com os meus colegas, o que antes nem sempre era possível devido às rotinas de cada um", diz.

Futuramente, Joana tem como objetivo tentar ser sempre melhor. "Eu amo dançar e amei todas as experiências que tive. Quero continuar a ter mais e mais. Ter um livro lindíssimo de memórias diferentes. Eu acho que nós entrámos neste mundo e que estamos a saltar de trabalho em trabalho, projeto em projeto, a trabalhar e a criar para outros, mas eu olho para o meu trabalho enquanto bailarina e pergunto-me O quê que é a Joana tirando as suas coreografias e as aulas?", desabafa.
"Tenho que dar sempre o meu melhor"
A jovem pretende desenvolver mais a parte das artes, o background. Tentar pôr em prática mais coisas suas. "Tirar tempo e perder dinheiro para criar algo meu. Acho que se eu começar a fazê-lo, vai ser bom para mim enquanto criativa. Acho que vai ser ótimo", pensa.

Uma das coisas que tem como mais valia é a versatilidade. "Enquanto performer estou sempre muito insatisfeita. Vivo tudo com muita paixão e muito intensamente porque adoro o que faço. Amo a minha arte e amo a minha profissão. Tento respeitá-la ao máximo e tento ser sempre humilde".
"A dança é o meu ar! É terapia! É food for the soul! Que pergunta difícil, não é? É tanta coisa Boa!"Texto publicado por Viviana FangueiroCréditos:
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